Deus, no Antigo Testamento, revelou-se aos homens em sua unidade e unicidade, visto o ambiente politeísta em que vivia imerso o povo de Israel.
Somente na plenitude dos tempos, através de Jesus Cristo, Deus houve por bem revelar aos homens o mistério de sua vida. Deus, sem deixar de ser uno, possui uma vida tão rica que se afirma em três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo.
1. O Deus da Aliança
Os nomes de Deus
Na história dos Patriarcas, encontram-se diversos apelativos: El-eljon (Deus Altíssimo), El shadday (Deus Forte), El olam (Deus Eterno), El-roi (Deus que vê)… A partir dos séculos IX-VIII a.C., predominou o nome Elohim, que é um plural intensivo de El (Deus), e significa que no Deus Vivo estão as forças de todas as presumidas divindades.
Contudo, Deus quis se revelar com o nome de Javé (JHVH), que significa “Eu Sou Aquele que É”.
A Aliança
Deus quis fazer aliança com seu povo desde a época de Abraão, e renovou essa aliança com Moisés. Estas alianças têm características singulares: a iniciativa é exclusivamente de Deus e é irrevogável da parte do Senhor.
O Senhor ama gratuitamente o seu povo e, por isto, pactua com ele. O povo, assim, contrai obrigações, mas o não cumprimento destas não anula a aliança.
Há duas Alianças: a antiga, feita com nossos primeiros pais e violada pelo pecado, e a nova, que, por Cristo, restaura a antiga. Esse conceito de Aliança é fundamental para toda a História da Salvação.
A primeira Aliança foi violada pelo pecado do homem; imediatamente, Deus prometeu restaurá-la e, em vista dessa restauração, foi fazendo alianças com os Patriarcas, Reis e Profetas até em Cristo consumar a restauração da Aliança, de forma nova, perfeita e eterna.
2. Verdade e Amor
Deus tem, entre outros atributos, o da Verdade e o do Amor.
Verdade
Verdade, em hebraico, vem de um verbo que significa ser sólido, ser seguro, ser digno de confiança. Assim, a Verdade de Deus no Antigo Testamento é a sua fidelidade, na qual o homem pode se apoiar, como um rochedo inabalável. A firmeza da rocha (ou a Verdade) compete especialmente à Palavra de Deus, na qual o homem pode confiar-se e jogar sua vida em resposta a essa Palavra.
Na plenitude dos tempos, Jesus Cristo apareceu como a própria fidelidade (Verdade) de Deus encarnada. Ele é o testemunho mais eloquente da Verdade de Deus.
Amor
Frequentemente, o Antigo Testamento é apresentado como o regime da Lei do Temor, ao passo que o Novo Testamento, o regime da Lei do Amor. Na verdade, há uma continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento.
No Antigo Testamento, as relações de Deus com seu povo são as de um pedagogo, que educa seus filhos. Todas as penas impostas por Deus são medicinais, não vingativas. São penas baseadas no amor.
A compreensão de que Deus é, antes de mais, o amor, levou Israel a passar de uma relação formal e legalista para uma relação mais íntima e profunda, suscitando a religião do coração.
Justiça
Justiça significa retidão, ser conforme à ordem e ao plano de Deus. Implica, portanto, dois aspectos:
a) relacionamento entre Deus e os homens: da parte de Deus, nunca há débitos. Ele nada deve ao homem, mas apenas a si mesmo. Já da parte dos homens, há débito. O homem deveria ser como a ordem estabelecida por Deus, o que coincide com a santidade. Devemos notar, ainda, que a justiça do homem não é condição, mas consequência da justa ação de Deus;
b) relacionamento dos homens entre si: a justiça do homem para com Deus o obriga a ser justo para com o homem, respeitando os direitos dos outros, pois todo homem é imagem e semelhança de Deus. Quanto mais justo, mais próximo da caridade, do amor.
Aspectos da Vida em Israel
Essa noção de Deus justo parece não se conciliar com três aspectos da vida de Israel:
1) a prática do herém: costume de exterminar toda a presa capturada do inimigo vencido (mulheres, crianças, animais…). Essa prática foi aceita na Lei de Moisés para evitar a contaminação do povo de Israel com as religiões e os costumes pagãos;
2) mentalidade do clã: todo indivíduo era solidário com a sua família e a sua tribo, formando com esses um só organismo. Foi aceita na Lei de Moisés para preservar a justiça e a ordem num povo rude;
3) prosperidade dos maus: é fácil encontrar indagações dos homens retos junto a Deus a respeito da prosperidade dos maus; por que tudo dá tão certo para aqueles que desafiam a Deus? A resposta a tais indagações não consiste em prometer aos amigos de Deus prosperidade terrena, mas em assegurar-lhes que Deus fará plena justiça aos seus na vida póstuma. Essa retribuição póstuma só vem plenamente à luz com Jesus Cristo, no Novo Testamento.
Deus foi se revelando aos poucos ao seu povo, de forma didática e paciente. Ao mesmo tempo que corrigia, demonstrava seu amor incondicional. Respeitou cada fase do crescimento de Israel como povo da aliança.
E fez com que seus patriarcas, reis e profetas fossem seus arautos, educadores e pedagogos do seu povo, preparando-o para a restauração da Aliança em Jesus Cristo, onde toda a Lei encontra seu cumprimento e aperfeiçoamento.