Antes de entrar no estudo direto da figura de Cristo, veremos sobre a conveniência, a necessidade, o motivo e a época da Encarnação de Jesus.
A Conveniência da Encarnação
Por “encarnação” entendemos o fato de Deus fazer-se homem sem deixar de ser Deus e sem mutilar a natureza do homem. Então, a encarnação era conveniente? Deus é Amor infinito. Ora, o amor é fonte de perfeição e autodifusão, quer dar-se à pessoa amada para beneficiá-la. Por isso, Deus se dá ao homem em três comunicações de ordem ascendente:
- Na criação: Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, estabelecendo assim a ordem natural;
- Através da filiação divina: Deus eleva o homem à condição de filho de Deus, dando-lhe comunhão de vida com o próprio Deus, estabelecendo assim a ordem sobrenatural;
- Pela encarnação: a natureza humana de Jesus, com sua consciência humana e sua liberdade, existe pela existência da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. É caso único e é a comunicação máxima de Deus ao homem. Deus quis que a própria humanidade unida ao Filho de Deus encarnado se tornasse o instrumento da sua redenção.
Assim, concluímos que a Encarnação era conveniente ao plano de Deus-Amor.
A Necessidade da Encarnação
A Encarnação era tão conveniente que pode ser tida como necessária? A Sagrada Escritura insiste sobre a gratuidade da Encarnação, que depende de um ato livre da vontade de Deus. Deus poderia ter concedido diretamente a graça do perdão ao homem, sem passar por Jesus Cristo.
Em suma, nada nem ninguém pode impor coisa alguma a Deus. Portanto, a Encarnação não era necessária por necessidade absoluta, pois Deus tinha outros recursos para perdoar o homem. Porém, podemos afirmar que a Encarnação era necessária relativamente ou sob alguns aspectos:
a) era o melhor meio para restaurar a dignidade humana. Deus não quis realizar a Redenção dos homens por via meramente jurídica ou psicológica, mas fê-lo à guisa de recriação. O Filho de Deus assumiu tudo o que era do homem e divinizou-o, tornando-se sacramento primordial da nossa salvação. Jesus deu novo sentido à existência do homem;
b) era também o melhor meio para nos provocar à prática do bem. Deus não quis exortar apenas por palavras e preceitos, mas nos deu o exemplo da vida santa;
c) a Encarnação nos ensina o valor da natureza humana e do mundo que a cerca. Essa consciência levanta a esperança do homem e o incita a uma resposta mais generosa.
O Motivo da Encarnação
Por que Deus Pai quis a Encarnação do seu Filho? Lembramos novamente: Deus não pode estar obrigado por criatura alguma; Deus deve apenas a Si mesmo. É, pois, em sentido relativo que falamos do motivo da Encarnação: qualquer causa que lhe assinalemos será sempre dependente da livre vontade de Deus.
1) Deus quis a Encarnação por causa do pecado do homem. Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. O nome Jesus significa Salvador. Contudo, o fato de Cristo ter vindo ao mundo por causa do pecado não subordina Jesus a criatura alguma.
2) Jesus Cristo é de tal excelência no plano de Deus que, mesmo que não fosse o pecado, o Filho de Deus se teria encarnado e preencheria as funções de Mestre dos homens e Rematador da obra do Pai. Dado o pecado, o Verbo se fez também Redentor dos homens.
A Época da Encarnação
Em Gálatas 4, 4, lemos:
Na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho.
Plenitude indica o momento propício. Isso não significa que o homem estava no apogeu das virtudes morais e da cultura; pelo contrário, Jesus veio numa época em que os homens estavam profundamente marcados pelo pecado. E por que a Providência assim procedeu?
Assim, nenhuma criatura se vangloriará diante de Deus
1Coríntios 1, 29
Em outras palavras: Deus quis que o homem recebesse a salvação gratuitamente, sem mérito próprio, para que não pudesse se vangloriar.
A União Hipostática
Em Jesus, há uma só pessoa (um só eu divino) e duas naturezas (divina e humana), que se unem entre si não por laços afetivos apenas, mas por subsistirem numa só e mesma pessoa. Vamos a algumas definições:
1) Essência é aquilo que faz algo ser o que ele é. A essência do homem é “ser vivente racional”; a essência de Deus é “ser por si e não por outrem”;
2) Natureza é aquilo que só existe quando realizada de maneira concreta em indivíduos. A natureza humana só existe em pessoas, ou seja, a pessoa (hypóstasis) é o que faz subsistir a natureza humana;
3) Em Jesus, havia tudo o que integra a natureza humana: corpo, alma, inteligência, vontade, memória, afetos, capacidade de sofrer, de morrer etc. Todavia, a substância da natureza humana de Jesus não era devida a uma pessoa humana, e, sim, à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que, pelo mistério da Encarnação, se tornou o sujeito responsável pelas ações de Jesus. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, com a sua Encarnação, passa a subsistir na natureza humana sem, contudo, nada perder do que é de Deus (poder infinito, ciência universal…). A essa união entre a natureza humana e a natureza divina chamamos hipostática.
Jesus – o Sacramento Primordial
A pessoa de Jesus Cristo é adorável mesmo em sua humanidade e capaz de dar valor infinito aos seus atos humanos. E cada uma das naturezas é fonte de suas atividades próprias. A natureza humana é gerada, come, dorme, cresce em sabedoria e idade, sofre e morre; só não peca. A natureza divina realiza as atividades própria de Deus, como os milagres, o perdão dos pecados…
Por isso se diz que Jesus é o Sacramento primordial, o primeiro grande sinal que exprimia Deus e comunicava a vida divina aos homens através de suas palavras, gestos e ações. A Igreja prolonga essa estrutura sacramental de Cristo, como realidade visível que traz em si e comunica a vida de Deus.
Por fim, os Sete Sacramentos são os filetes terminais desse Sacramento primordial que é Jesus Cristo. A atribuição dos predicados humanos a Deus e de predicados divinos à humanidade em Jesus chama-se “comunicação das propriedades”.
Exercitando
A Equipe de Formação preparou ainda um flash quiz, um quiz de cinco perguntas, com o objetivo de exercitar o conteúdo que foi ensinado aqui. E aí, você topa? Acesse o Flash Quiz: Jesus Cristo – Cristologia Sistemática.