As Processões em Deus
Não há dúvida que penetrar no mistério da vida de Deus Uno e Trino escapa à plena compreensão da inteligência humana, que é sempre finita. A reflexão teológica quer mostrar não somente que o mistério da Santíssima Trindade não é um absurdo, mas também traz em si grande harmonia e conveniência.
A Sagrada Escritura, ao falar do Pai e do Filho, supõe procedência (ou processão) do Filho em relação ao Pai. No tocante ao Espírito Santo, o próprio Jesus diz “que procede do Pai” (cf. Jo 15, 26). Não se pode confundir processão (proceder) com procissão (cerimônia religiosa).
Portanto, processão é simplesmente a origem de um ser a partir de outro, sem relação de causalidade entre si, ou seja, um não é a causa da existência do outro.
Tipos de Processão
a) transeunte: aquilo que procede sai do sujeito donde procede. Ao escrever uma carta, esta sai da pessoa que escreve e permanece fora dela;
b) imanente: aquilo que procede permanece no sujeito donde procede. É o que acontece com nossas ações vitais, como o conhecer, o querer, o ver, o ouvir… Quando admiramos uma paisagem, nada sai de mim, mas realizo uma ação que me enriquece interiormente. Dentre as ações imanentes, as mais nobres são as da vida intelectiva: o conhecer e o querer (que decorre do conhecimento).
Em Deus, também há processões transeuntes (a criação do mundo e do homem) e imanentes (conhecimento intelectivo e querer). Todavia, diferentemente do homem, que traz em si uma busca contínua da Verdade através da inteligência, Deus conhece a Verdade num único ato, assim como num único ato, Deus ama todo o bem.
Deus é o próprio objeto do seu conhecimento e amor. Ele não depende de criatura alguma para conhecer e amar.
Em Deus, há duas processões e três pessoas. Não pode haver nem mais nem menos. É importante salientar que essas processões não implicam temporalidade (antes e depois), nem hierarquia nem dependência.
No único e permanente instante da eternidade, Deus se conhece gerando o seu Filho igual ao Pai, e Deus se ama, produzindo o Amor Subsistente. Há, pois, uma só natureza em Deus, duas processões e três pessoas. As processões, sendo imanentes, não dividem nem retalham a única natureza divina.
O triângulo equilátero é uma figura muito usual para falarmos análoga e figuradamente sobre Deus: ele apresenta uma só área, que é focalizada diversamente a partir de cada um dos seus ângulos, que são iguais entre si, mas ocupam posições diversas e inconfundíveis dentro da unidade da figura.
Os Nomes das Três Pessoas Divinas
A Primeira Pessoa chama-se Pai porque gerou a Segunda Pessoa, que é seu Filho por natureza, desde toda eternidade. A Segunda Pessoa chama-se Filho porque foi gerada pelo Pai e por possuir a natureza do Pai e chama-se Verbo porque assim como o verbo é fruto do entendimento humano, o Verbo é fruto do entendimento do Pai.
A Terceira Pessoa chama-se Espírito (que significa espiração ou impulso de amor), porque procede do Pai e do Filho por via de Vontade e Amor. Acrescenta-se Santo porque a Ele se atribui, de modo especial, a santidade.
As Missões Divinas
Deus é Uno e Trino em sua vida íntima. A História da Salvação nos ensina que existe um Pai que nos enviou seu Filho, e que Pai e Filho nos enviaram o Espírito Santo como dom por excelência. Esses envios, ou missões, são o eco temporal das eternas processões existentes em Deus.
Esse estudo dá uma nota muito concreta ao Tratado da Santíssima Trindade. O mistério de Deus aparece profundamente inserido na trama da história dos homens.
O Pai não é enviado porque não procede, é Ele quem envia o Filho como Salvador, nascido da Virgem Maria, para que recebêssemos a adoção filial. Esta é a missão visível do Filho, que não implica subordinação da Segunda Pessoa em relação à Primeira, e que torna Deus presente às criaturas.
O Espírito Santo procede do Pai e do Filho e nos é enviado por ambos. Ele é o dom que o Pai e o Filho nos entregam como consequência da vitória de Cristo. Ele é “o outro Paráclito” (cf. Jo 14, 16), na ausência de Cristo.
As Apropriações
Chamamos propriedades certos predicados que convêm, de maneira exclusiva, a uma Pessoa Divina. Assim, a paternidade, ao Pai; a filiação, o ser Palavra (Verbo), o ser Imagem, ao Filho; a espiração, o ser Amor e o ser Dom, ao Espírito Santo. Além disso, na Liturgia e na Sagrada Escritura ocorrem também as apropriações.
Apropriação é o ato de atribuir a determinada Pessoa Divina um predicado comum às três. Dizemos que o Pai é todo-poderoso e criador do céu e da terra, mas, na verdade, as três Pessoas são igualmente poderosas e criadoras; todavia, parece que o ato de criar tem especial afinidade com o Pai, porque Este é o Princípio sem princípio. Ao Filho é apropriada a Sabedoria, não porque só Ele é sábio, mas porque é a Palavra (Verbo) do Pai. Ao Espírito Santo é apropriada a santificação, que implica a consumação no amor.
Exercitando
A Equipe de Formação preparou ainda um flash quiz, um quiz de cinco perguntas, com o objetivo de exercitar o conteúdo que foi ensinado aqui. E aí, você topa? Acesse o Flash Quiz: A Trindade e as Missões Divinas.