A narração do pecado original se encerra em Gn 3, 15 com a promessa de restauração da amizade do homem com Deus:
Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
O sujeito que esmagará, no caso, é o descendente da mulher, conforme o texto hebraico, aquele que chamariam “o Messias” ou “o Salvador”.
A Doutrina do Novo Testamento
Anteriormente, já apresentamos a figura de Jesus Cristo, que se identificou como Messias e o próprio Deus. Desenvolvendo a temática, examinemos alguns títulos que caracterizam Jesus nos escritos do Novo Testamento:
Filho do Homem – Senhor – Cristo
1) Filho do Homem: para os semitas, essa expressão significa simplesmente homem, no seu aspecto frágil e precário. Ora, Jesus quis identificar-se preferentemente por esse título. Ele ocorre 80 vezes nos lábios de Jesus nos Evangelhos e está associado aos poderes e à autoridade de Jesus: o Filho do Homem, que perdoa pecados, é o Senhor do sábado, que virá na glória do Pai, que assentar-se-á à direita de Deus, mas que também é sujeito da Paixão e dos opróbrios, não tem onde repousar a cabeça, veio para dar a vida em resgate de muitos. Ele preferiu intitular-se Filho do Homem pois estava menos associado a condições políticas, evitando que julgassem ser Jesus um revolucionário. Contudo, esse título foi posto de lado pelos primeiros cristãos, que preferiram chamá-Lo de Senhor (Kyrios);
2) Senhor: Adon (Senhor) designava o senhorio ou o domínio de Deus. Quando os judeus pararam de usar o nome de Javé na liturgia, substituíram por Adonay (meu Senhor). Sendo assim, o Novo Testamento transferiu para Jesus Cristo o título de Kyrios. O senhorio de Jesus não substitui o de Deus Pai, mas significa que, a partir da ressurreição, Jesus comunga com a soberania de Deus Pai;
3) Cristo: Christós é a tradução grega do aramaico Messiah e do hebraico mashiah, que significa ungido. Ungidos eram os reis e sacerdotes de Israel. Esse título se tornou apelativo do Rei ou do Filho de Davi por excelência, que salvaria o seu povo. Os discípulos de Jesus reconheceram-no como tal Rei e, por isto, lhe atribuíram a designação de Cristo;
Servo de Deus – Filho de Deus – Deus
4) O Servo de Deus: essa expressão vem do hebraico e consiste na apresentação de uma vítima inocente que se oferece em sacrifício de intercessão e expiação pelos pecadores. O sofrimento toma um sentido até então desconhecido; não é necessariamente consequência de pecados pessoais, mas é redenção ou resgate em favor de pecadores. Jesus se identificou com o Servo de Javé ao dizer, por exemplo:
Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos.
Marcos 10, 45
5) Filho de Deus: no Antigo Testamento, esse título tinha diversos significados. Designava o povo de Israel, o rei de Israel, o Messias, os anjos, os justos. No Novo Testamento, esse título assume outros diversos aspectos, como uma pessoa extraordinária. O próprio São Pedro proclamou que Jesus era o Filho de Deus Vivo (cf. Mt 16, 16). Contudo, somente após a Páscoa os Apóstolos atingiram a plena compreensão dessa expressão;
6) Deus: o título “Filho de Deus” se torna claro por excelência se considerarmos que o Novo Testamento designa Jesus, sem mais, como Deus. São Paulo formula a doxologia:
Cristo… que é, sobre todas as coisas, Deus bendito para sempre. Amém!
Romanos 9, 5
Desta forma, os escritos do Novo Testamento, na primeira hora da Igreja, professam Jesus Cristo como Deus e homem.
A História da Cristologia
A fé ensina que Jesus é Deus e homem. Todavia, esta formulação muito simples exigiu longas reflexões para ser devidamente expressa. Eis as etapas principais dessas reflexões:
- A Divindade de Cristo foi impugnada por parecer contradizer aomonoteísmo. Finalmente, o Concílio de Niceia I (325) a definiu;
- E como se explicar a Encarnação do próprio Deus em Jesus Cristo? Foram registradas afirmações insuficientes e exageradas da humanidade de Jesus. Vejamos:
Heresias Cristológicas
- Docetismo: professava que Jesus era uma entidade superior que assumira um corpo aparente ou fantasmagórico;
- Ebionitas e Adopcionistas: admitiam Jesus como mero homem sobre o qual descera a força da Divindade, à semelhança dos Profetas;
- Apolinarismo: professava que Jesus era Deus, mas tinha uma natureza humana mutilada, carente de alma racional; esta teria sido substituída pela presença imediata do Logos;
- Nestorianismo: afirmava que em Jesus havia duas pessoas (a divina e a humana), cada qual com a sua natureza;
- Monofisismo: proclamava que em Jesus a natureza humana fora absorvida pela divina como uma gotícula no oceano da Divindade; portanto, em Jesus haveria apenas uma pessoa e uma natureza;
- Monoenergismo e Monotelitismo: ensinava que em Jesus havia duas naturezas, mas havia apenas
uma operação (enérgeia) e uma só vontade (thelétes) no sentido físico (e não apenas no moral).
O Concílio de Constantinopla III (681) encerrou todas as discussões que essas heresias levantaram, fixando a fórmula de fé: em Jesus há uma só pessoa (divina) e duas naturezas (divina e humana).
Exercitando
A Equipe de Formação preparou ainda um flash quiz, um quiz de cinco perguntas, com o objetivo de exercitar o conteúdo que foi ensinado aqui. E aí, você topa? Acesse o Flash Quiz: Jesus Cristo – Aspectos Bíblicos.