Conforme vimos na última formação, nesse nosso itinerário de ascese, o pecado do orgulho é a fonte e princípio de todos os pecados. E o combate a esse vício deve ser violento, porque “Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mateus 11, 12). Sabendo disso, sem mais delongas vamos à formação!
O combate ao orgulho se dá com a virtude a qual ele contraria, a maior de todas, a humildade. Na prática, a humildade consiste numa aceitação e vivência nessa certeza de que o homem não é nada, não vale nada senão o que Deus o concede que valha e que não pode nada senão em Deus, que é fonte e origem de todo bem.
O homem é nada e pecado. Por si mesmo, pratica somente o mal. Todo bem está em Deus, provém de Deus e não do homem. Somente a Deus deve ser dado o reconhecimento, a honra e a glória.
A Humildade enquanto ferramenta
O orgulho consiste em desviar o coração dessa verdade e viver segundo o desejos, inspirações e impulsos que não vem do Senhor, e neles fazer morada. O combate ao orgulho se dá na decisão e na prática de:
a. Perceber e aceitar a dependência de Deus para tudo;
b. Observar que não se é perfeito, muito pelo contrário;
c. Reconhecer estar errado quando, de fato, estiver;
d. Lembrar dos próprios pecados;
e. Lembrar que uma obra boa, feita com orgulho, é má.
A virtude é uma disposição habitual que permite ao homem fazer o bem e dar o melhor de si com todas suas forças sensíveis e espirituais. A humildade é a virtude que abre os tesouros da graça e o fundamento das virtudes.
Na prática, a virtude enquanto remédio e antídoto contra o orgulho, se dá na aceitação dessas três verdades:
a. O homem não é nada;
b. O homem não pode nada por si mesmo. “mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos” (1Coríntios 12, 6);
c. Considerando o preço pelo qual foi comprado, o homem vale o preço do Sangue de Deus, e esse não tem preço. Por si mesmo, no orgulho, o homem é só nada e pecado.
Santidade com São Bento
Na Regra de São Bento, encontra-se um esquema de como adquirir e viver, verdadeiramente, a humildade. O esquema está dividido em doze graus:
1º grau: Ter sempre diante dos olhos o temor de Deus e, consequentemente, manter-se em guarda contra todos os pecados, notadamente contra a vontade própria.
2º grau: Renunciar a seus próprios desejos, resultado da renúncia à vontade própria.
3º grau: Submeter-se com toda a obediência a seu superior, por amor de Deus.
4º grau: Aceitar em paz as ordens difíceis, mesmo os maus tratos e injúrias.
5º grau: Descobrir ao superior os pensamentos, mesmo os maus, que vêm ao espírito.
6º grau: Contentar-se com o que há de mais vil e mais abjeto.
7º grau: Considerar-se a si mesmo, do fundo do coração, como o último de todos.
8º grau: Seguir simplesmente a regra comum, e fugir de toda singularidade.
9º grau: Guardar o silêncio até que seja interrogado.
10º grau: Não ser muito fácil em rir.
11º grau: Falar calmamente, com gravidade, em poucas e razoáveis palavras.
12º grau: Trazer a humildade em seu coração e em todo o seu exterior, baixando os olhos como um criminoso que se considera como estando no momento de ser chamado ao terrível tribunal de Deus.
Conclusão
A virtude, sendo uma disposição habitual que permite ao homem dispor de todas as suas forças sensíveis e espirituais para fazer o bem, é o oposto do vício, ou pecado capital, do orgulho.
Sendo o orgulho a prática de, com as capacidades humanas, tomar de Deus o que a Ele pertence, a humildade é, a partir de todas as forças presentes no homem, devolver ao Senhor de todas as coisas todo o mérito e tudo o que há de bom, o que, na verdade, a Ele pertence.
Gostou do que leu até aqui? Então fique ligado porque tem muito mais por vir! Na próximo formação, falaremos sobre os vícios que procedem do orgulho. Lembra que ele é fonte de todos os outros? Então… aprenderemos e revelaremos um dos seus frutos: a Inveja.