Revelação
O homem é um ser essencialmente religioso. Reconhece espontaneamente a soberania do Ser Supremo. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina:
Por amor, Deus revelou-se e deu-se ao homem. Dá assim uma resposta definitiva e superabundante às questões que o homem se põe a si próprio sobre o sentido e o fim da sua vida. Deus revelou-se ao homem, comunicando-lhe gradualmente o seu próprio mistério, por ações e por palavras.
Catecismo da Igreja Católico 68-69
Esse reconhecimento se dá através de dois tipos de religião: a natural e a revelada.
A Religião Natural
A religião natural é baseada na revelação natural de Deus, quando Deus dá-se a conhecer a todo homem através de dois canais:
a) O mundo com sua ordem e harmonia: assim como todo relógio supõe um relojoeiro, o mundo, com a multidão de elementos que o compõem, leva-nos a admitir uma inteligência suprema que concebeu, criou e conserva todos esses elementos na sua interdependência natural. Assim, percebe-se que a existência de Deus, Criador de tudo e Fonte de todas as perfeições, está ao alcance da razão humana, como professa a própria Filosofia;
b) A consciência moral existente em todo homem: todo homem traz em si uma voz que o incita: “pratica o bem, evita o mal”. Essa voz não é a projeção dos nossos sentimentos, pois muitas vezes nos contraria, mas é a voz de Deus, a marca do Criador, que nos fez para si e nos chama constantemente a voltarmo-nos para Ele.
A Religião Revelada
A religião revelada é baseada na especial revelação de Deus, que convida os homens à filiação divina e à ordem sobrenatural. Deus se manifestou aos homens de Abraão a Jesus Cristo, dando-lhes a conhecer o seu plano de salvação, que consiste em levar os homens à visão de Deus face-a-face; visto que tal dignidade ultrapassa as exigências da natureza humana, é chamada ordem sobrenatural.
Por isso, o Cristianismo, com suas raízes judaicas, não é simplesmente uma religião entre várias sobre a terra, mas é a mensagem especial de Deus, à qual os homens procuram responder mediante a profissão de fé, a celebração do culto sagrado e a vivência adequada.
Não é um movimento do homem para Deus, mas, antes, é uma iniciativa de Deus que se digna amar e se revelar ao homem, para que esse participe do mistério da Santíssima Trindade.
Toda a Revelação Divina pública e oficial encerrou-se com Jesus Cristo e a geração dos Apóstolos. O que ocorre na Igreja é o desdobramento das verdades reveladas sob a ação do Espírito Santo, que foi enviado por Jesus à Igreja para “lhe recordar o que o Senhor disse e levá-lo à plenitude de sentido” (cf. Jo 14, 26).
Há, ainda, revelações particulares (como Lourdes, Fátima…) que não se impõem à crença dos fiéis e nada acrescentam de novo aos artigos do Credo, mas geralmente propõem exortações à oração e à penitência.
A Sagrada Tradição
Falar da Tradição da Igreja não é falar de simples costumes que se perpetuam na vida desta. Não é falar de tradições culturais, e sim, da Sagrada Tradição. A Sagrada Tradição guarda o depósito de fé da Igreja, que conserva o que Jesus ensinou. Esse depósito de fé é também chamado de Revelação, ou seja, aquilo que Deus ensinou de Si e seus mistérios aos homens, através dos ungidos do povo de Deus, na Antiga Aliança (patriarcas, juízes, profetas, autores bíblicos etc.), mas, sobretudo, por meio de Jesus Cristo, depois dos apóstolos, e guardado e vivido na Igreja primitiva.
Essa verdade revelada está contida na Tradição da Igreja (oral) e na Sagrada Escritura, a Bíblia (escrita). O Magistério da Igreja também compõe a Tradição Escrita.
“Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa.” (2Ts 2, 15)
Os Critérios de Revelação
Toda Revelação divina deve ser assinada por critérios de autenticidade ou credibilidade. Não devemos crer em qualquer coisa. A fé tem o direito de pedir credenciais para dizer o seu sim. E são dois os critérios da credibilidade:
a) Subjetivos: paz profunda e felicidade experimentadas pelos fiéis como resposta às aspirações profundas do sujeito;
b) Objetivos: o milagre e a profecia. O milagre não é apenas um fato maravilhoso ou uma demonstração do Poder de Deus, mas deve ser um fato histórico, algo totalmente inexplicável pela ciência e ocorrido num contexto de oração humilde e confiante, como resposta de Deus a uma pessoa devota. A profecia é a predição de um acontecimento futuro, impossível de ser conhecido naturalmente pelo profeta no momento da predição.
Fé
A fé é a resposta do homem à Revelação Divina, é a adesão do homem a Deus que lhe fala. Não é apenas um sentimento de confiança, nem um posicionamento cego, mas é um ato da inteligência humana, que foi feita para a verdade e que em Deus encontra a Verdade Suprema. As verdades da fé são sempre transcendentais para a razão humana.
Por isso, ninguém é obrigado a crer apenas pela existência de evidência racional. Para crer, é necessário que a inteligência movida pela vontade faça a sua adesão, diga o seu sim. O itinerário de uma proposição de fé é esse:
Artigo de Fé → Inteligência → Vontade → Afetos e Paixões
O artigo de fé interpela a inteligência. A inteligência não o tem por evidente nem por absurdo, por isso entrega a decisão à vontade. A vontade dirá sim ou não de acordo com os seus afetos e paixões. A fé não é algo irracional. É, antes, uma homenagem da criatura ao Criador.
Portanto, é lícito e muito recomendável ao Cristão procurar aprofundar as riquezas da mensagem cristã para dar as razões da sua esperança a todos que as pedirem (1Pd 3, 15). Essa busca de se ilustrar as verdades da fé mediante estudo ou instrumental da inteligência humana originou o que chamamos de Teologia.
Teologia
Teologia quer dizer “discurso sobre Deus”. É a procura lógica e sistemática de algum entendimento das verdades da fé. Classicamente, é definida como “a fé que procura compreender”, ou seja, a Teologia supõe a fé, não é algo meramente racional, como a Filosofia. O teólogo é, antes de tudo, um homem de fé, que procura as verdades da fé. A autêntica Teologia é cultivada em consonância com a voz da Igreja, que ressoa através de seu Magistério (que é inspirado pelo Espírito Santo e, portanto, infalível).
Exercitando
A Equipe de Formação preparou ainda um flash quiz, um quiz de cinco perguntas, com o objetivo de exercitar o conteúdo que foi ensinado aqui. E aí, você topa? Acesse o Flash Quiz: Revelação, Fé e Teologia.