Adorar é um verbo interessante. É mais do que orar, rezar. Segundo o dicionário, adorar é reverenciar, venerar, amar extremamente, prestar culto, cultuar.
Na verdade, na maioria das vezes, quando rezamos, nos colocamos a falar, falar e falar. Falamos muito, falamos o que devemos e o que não devemos. Repetimos palavras e orações já prontas ou ensaiamos algumas para dizer a Deus. E não é que isso seja ruim. Não. Pelo contrário. O valor da oração da Liturgia das Horas e do Santo Rosário são incalculáveis. Isso sem falar no valor da Santa Missa que, por excelência, é a Oração das Orações! O problema não está nas palavras, nos gestos ou na oração em si.
Independente de repetimos palavras já previstas, de usarmos palavras próprias e aleatórias, e de todo o gestual, o que importa é nossa contrição e concordância na oração. Concordar significa agir com o coração (cum cordis). Se nossa oração parte apenas dos nossos lábios, ela é vazia e não produz nenhum tipo de efeito em nós. Ao rezarmos, devemos tirar essa oração do coração, do mais profundo de nosso ser, e dar sentido e valor a cada palavra que falamos ou pensamos, a cada gesto.
Nasci “na Igreja”, como dizem, numa família católica. Fui batizado com 27 dias de vida e fiz minha Primeira Comunhão pouco depois de completar 9 anos. Sempre fui à Missa e aprendi muito cedo com minhas avós e tias-avós as orações antes de dormir e o Terço do Rosário. Perto dos 15 anos, me inscrevi para o curso de Crisma e estava me preparando para confirmar a minha fé e me tornar um católico maduro, adulto, seja lá o que isso significasse. Contudo, na Quinta-Feira Santa daquele ano (12/04/1990), algo inesperado aconteceu.
Os jovens deveriam conduzir um momento de adoração naquela Vigília. Seriam 2 horas. E eu fui. Talvez mais por curiosidade, pois nunca havia feito algo parecido. E foi naquela noite que Jesus Sacramento se revelou a mim de uma forma nova. Os cantos que antes saiam dos meus lábios, naquele momento ganharam um sentido novo e começaram a brotar do meu coração. Aquele que eu recebia na Comunhão havia mais de 5 anos, agora eu conhecia e podia experimentar uma presença diferente, viva, que dava sentido a tudo. Naquela noite, eu entendi a diferença entre rezar e adorar. E tudo mudou na minha vida.
Diante do Rei, eu entendi o que Jesus nos pedia ao dizer que o Pai queria adoradores que O adorassem em espírito e verdade (cf. João 4, 23). Eu entendi a presença silenciosa da Mãe diante da Cruz, numa adoração silenciosa e sofrida, sim, mas confiante de que tudo aquilo seria passageiro e geraria vida nova. Eu entendi que, como dizia Santa Teresa d’Ávila: “Eu te olho, Tu me olhas, e isso basta!” Sim. Adorar o Mestre Sacramentado é um simples gesto de olhar para Ele e deixar-se olhar por Ele. É coração junto de coração. É gastar tempo face a face com um amigo, como Moisés fazia na Tenda (Êxodo 33, 11). Adorar nada mais é do que gastar tempo face a face com Jesus, nosso maior amigo, com o coração derramado diante dAquele que tudo pode, diante do Deus do Impossível!
“Meu Deus, eu creio, ADORO, espero e amo-vos. Peço-vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não vos amam.”