O título desse texto pode parecer, a princípio, estranho. Afinal, podemos estar cansados e, mesmo assim, nos considerarmos cristãos convictos, católicos de verdade?
O mundo de hoje nos cansa. Fato! A correria do dia a dia não nos deixa tempo para nós mesmos, quem dirá para Deus. Já acordamos exaltados e passamos o dia indo de um lado para o outro, sem, na verdade, irmos para lugar nenhum. Nossos afazeres ocupam nossa mente, nosso corpo e nosso espírito.
Vivemos tentando dar 200% de nós mesmos, quando na verdade, não somos nem 100% nós mesmos. Mas a culpa não está no mundo, nas coisas…
Sobre responsabilidades…
Eu sou responsável pelas minhas escolhas, mesmo quando a maior parte das coisas acontece contra a minha vontade ou de forma contrária ao que escolhi. Se eu resolvo acordar exaltado e fazer tudo correndo, isso é uma escolha minha.
Assim como se eu passo o dia inteiro correndo atrás das coisas e não vivendo cada momento, é uma escolha minha. Se a vida tem me apresentado limões enquanto eu desejo laranjas, eu preciso fazer a escolha certa.
Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve.
Mateus 11, 28-30
Sobre escolhas…
A primeira coisa a fazer é nos colocarmos na presença de Deus e, assim que acordarmos, pedirmos o Seu Espírito Santo e nos colocarmos debaixo da Sua Vontade Santa! Começar o dia no ritmo de Deus nos fará viver esse dia de forma mais humana, buscando o nosso equilíbrio e nossa paz, sem correria.
Jesus é nosso fardo leve e quer fazer com que nossos fardos pesados, e falsos, sejam trocados pelo seu. Mas, se fizermos essa troca, como poderemos nos fazer de coitadinhos e esperar que as pessoas tenham pena de nós?
Depois, já na presença de Deus, precisamos entender que cada coisa tem seu tempo certo e próprio para acontecer (Eclesiastes 3, 1ss), e minha correria ou desespero não pode mudar isso.
Tempo, tempo, tempo…
Não adianta você plantar uma semente de laranja hoje e amanhã ir buscar frutos. Leva tempo para que a árvore nasça, cresça, se desenvolva e aprenda a dar laranjas. Assim nós: precisamos nos permitir um tempo necessário para que cada coisa nasça, cresça, se desenvolva e dê seu fruto em nós e através de nós.
Por fim, mas não menos importante, precisamos gastar tempo conosco mesmo. Sim! Eu preciso dedicar um tempo a mim mesmo, preciso aprender a conviver comigo, a estar só comigo mesmo e gostar da minha companhia. Quem não gosta da sua companhia, não conseguirá encontrar no outro uma companhia que o satisfaça.
Dedicar tempo apenas aos outros, sem se conhecer, sem ser ou estar 100% consigo mesmo é o mesmo que tentar correr uma maratona sem nunca ter corrido 10 metros na vida ou nunca ter nem treinado correr. No começo, parece que está dando certo, que está tudo legal.
Mais a frente, as coisas começam a cobrar seu preço e não temos como pagar. O resultado: abandonar a corrida e somar mais uma derrota ou decepção na vida.
Refletindo
Antes de nos dedicarmos 100% ao outro, precisamos lembrar que nós também temos problemas, que nós também precisamos de atenção e de carinho, e que nós temos nosso limite. Há pessoas que apenas querem sugar, querem te ter com exclusividade para elas, afinal, elas têm problemas e precisam de muletas ou de atenção, sem se importar se você também tem problemas. Portanto, antes de ir em direção ao outro, vá em direção a Deus e a si mesmo, pois essa é a única maneira que temos de sermos uteis.
Portanto, sim, é possível sermos católicos e estarmos cansados, o que não é possível é continuarmos da forma que estamos e não buscarmos fazer nada para melhorar. O cansaço é próprio daquele que trabalha, que faz algo, que produz algum fruto. Contudo, para o fruto produzido ser agradável ao paladar, ele precisa estar maduro e saudável. E essa maturidade só Deus pode nos dar!
Católicos cansados: mais joelho no chão e mais coração dobrado na presença de Deus! Ele é nosso repouso, nosso refúgio e nosso consolo. E, mesmo assim, quando o cansaço da missão verdadeira chegar, lembre-se dessa belíssima canção: “Que o meu cansaço a outros descanse.” (A Barca)